31/07/2012

Sobre On The Road - o filme.

TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE AQUI.




SOBRE A ROTA
Estava com uma intoxicação alimentar que me deixou de cama por quatro longos dias em que cinco pílulas de cores diferentes desciam pela garganta e um lutador de sumô dançava em cima da barriga. Perdi um trabalho, perdi o aniversário do meu pai, perdi a cabeça e fiquei louca, demente e febril. E a ânsia de assistir “Na Estrada” me consumia há duas semanas. Quando os pôsteres começaram a subir em Paris, vi o manuscrito original do livro exposto no Museu de Letras. Um imenso rolo de telex, amarelo como os dentes de um lobo velho, ocupando toda uma sala. Eu estava em brasas.
Talvez eu esteja indo rápido demais.
Há um livro. O livro. O grande livro para muitos. Chama-se simplesmente “On The Road”, como uma revista de turismo barata ou uma música ruim. A pedra fundamental do movimento beat, que nada mais era do que um grupo de jovens amigos gênios e vagabundos que se expressaram em boa literatura – um relato cru, ritmado e sem censura dos Estados Unidos pós-guerra. Era 1950, eles tinham vinte anos, rejeitavam o materialismo, flertavam com religiões orientais e todo tipo de experimentação que os levasse ao limite. Os primeiros punks, mas com ternos amassados e uma poesia maravilhosa e delirante. Praticamente todos tiveram reconhecimento literário – merecido. Dividiam a mesma fonte, a mesma matriz, e falavam das mesmas pessoas, cada um com sua visão. Um quebra-cabeça de letras retalhadas e viradas do avesso. Havia o judeuzinho de óculos e sexualidade confusa, hoje reconhecido mundialmente como o grande poeta Allen Ginsberg. Havia o velho búfalo William S. Burroughs, ídolo de Kurt Cobain, Frank Zappa ePatti Smith – chegando a conviver intensamente com estes, pois faleceu no final dos anos 90. E Jack Kerouac, o grande. O big bang. O autor da maravilhosa semente, transformada corajosamente em filme por Walter Salles.
Uma coisa importante: nenhum fã do livro ousaria, a princípio, transformá-lo em filme. A narrativa errática e poética é tão delicada que se puxarmos, ela quebra. Mas Kerouac, o próprio, tinha interesse em fazê-lo – e pediu a Marlon Brando. Ele interpretaria o personagem-bomba Dean Moriarty e Kerouac tomaria parte de seu alter-ego, Sal Paradise. Brando não se animou muito, Coppola comprou os direitos da obra e a trancou num cofre dourado (é como gosto de imaginar a coisa). E alguns anos atrás, o diretor brasileiro – também um amante da estrada, coisa que deixa muito claro em praticamente todos os seus filmes, anuncia em voz serena que está colhendo material para sua próxima filmagem, justamente o clássico. Desde então, foram dois longos anos aguardando a estréia.
A doença se abateu sobre mim, mas devo prosperar, disse para o meu corpo.  Domingo, dia oficial da família, levantei-me e fui ao cinema. Peguei um táxi vagaroso e vi os minutos escorrendo do painel do carro enquanto o lutador de sumô sapateava na minha barriga. Cheguei com dois minutos de atraso e comprei a última entrada. A última. Poltrona número 1, de fuça pra tela. A porta estava aberta, me esperando, e um trailer com Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro tagarelava animadamente. Comecei a entrar em trabalho de parto. Então, soaram os primeiros acordes de uma musica melancólica e infantil, as luzes se apagaram e calças e sapatos antigos caminhavam por uma longa estrada pavimentada. O filme começou.
AGORA HÁ UM GRANDE NÓ NA MINHA GARGANTA.
O que vejo, nas próximas duas horas e vinte minutos – que passam agradavelmente, é um cinema lotado de seres vivos entrando em contato com o que mudou a minha vida. E eu na primeira cadeira. Parecia que o filme era meu. Toda vez que riem com as crises existenciais de Carlo Marx, ou com a virilidade de Dean, sinto um aconchegante abraço. Não havia melhor lugar do que aquela primeira cadeira, com ninguém na minha frente e uma imensa tela que nem cabia nos meus olhos. Pude ver os poros dos personagens reais que tanto amo, pude vê-los em movimento e em cores, e dividi-los com quem nunca os sonhou antes. Já fiz isso muitas vezes, e tenho certeza que Walter também – não houvesse de sonhá-los, não faria o filme que fez. Uma verdadeira ode a Kerouac e seus amigos, aos meus heróis. Um filme que comunica, que não é hermético. Um filme aberto como a própria estrada.
A única forma de transpor On The Road pra tela é desprezar a costura de retalhos literária de Kerouac, absorver os sentimentos e emoções que essa leitura desperta e provocá-los novamente através de imagens. Desprezar a geografia da viagem de Dean e Sal, desprezar personagens e acontecimentos. O livro trata de sensação. Garotos deslocando-se pela sensação e apenas isto. Não há clímax, pois não há fim, não há objetivo, apenas a estrada e o que acontece nela. Para Kerouac havia um livro, para Ginsberg o grande poema, mas para Dean Moriarty havia apenas a longa e dura estrada. Dean, na verdade Neal Cassady, inclusive morreu nela, ao lado de uma linha de trem no México.
O que senti vendo o filme é o que senti lendo o livro. Um vazio, às vezes uma exaustão, uma vontade de gritar, um choro que vem sendo trazido lentamente para explodir no final, como fogos de artifício.
Penso em Allen Ginsberg. Penso em Jack Kerouac. Penso em William Burroughs. Penso em Neal Cassady. Penso em Carolyn Cassady. Penso em LuAnn, penso em David Kammerer, penso em Gregory Corso, penso em Lucien Carr. Penso em Walter Salles. Rezo por todos. Amém.

28/07/2012

O que sobra pras mulheres que não vivem só de amor?




Você não deveria pintar suas unhas do pé de esmalte escuro. Faz parecerem sujos.
Estou sempre com os pés meio sujos. Quando escorrego pelo sofá, noto a pretidão daquelas solas meio grossas meio finas. Bastam alguns passos para enegrecerem. Os pés dele estão sempre limpos, ainda que exalem cheiro de suor ocasionalmente. Os meus não. Nunca suam. São frios como mármore. Essa é basicamente a diferença entre nós, se eu precisasse espremê-la em uma hora de sessão de análise. Chama-se associação livre, eu diria isso e o analista entenderia tudo, traçaria um mapa de infância, de como meu pai me tratou e a mãe dele o tratou, com quantos anos iniciamos nossas vidas sexuais, se eu já tive um orgasmo ou não. Você não fica muito tempo falando de relacionamentos, disse o analista. Isso é incomum. A maioria das mulheres vem aqui e falam de seus casos, namorados, maridos, ex maridos. Sobre o que devem pensar e o que fazem quando não estão com elas, e de como não as olham mais. Ninguém faz análise quando está apaixonado, concluo dentro do cérebro, enquanto ele continua em círculos. Você não fala do seu relacionamento amoroso, isso é curioso. Você não odeia os homens. A maioria das mulheres, ainda mais com a sua história de vida, odiaria os homens, culpá-los-ia. -- Penso em algo pra dizer. Ainda faltam uns vinte minutos. Parto pra outra livre associação. Conheço bem o jogo da análise. São dez anos. Quando não sei o que dizer, enfio uma livre associação, e sempre dá em algum lugar. Odeio pés, digo. Não suporto olhar os pés dos outros. Alguns pés me repugnam profundamente. Já namorei homens cujos pés não conseguia olhar, e quando queria odiá-los, quando estava chateada ou já não os amava mais, espiava seus pés só para sentir nojo. O que isso diz sobre mim? Nem tudo que a gente faz quer dizer alguma coisa, ele responde. Mas porque você, novamente, está usando os pés para introduzir uma questão sobre os seus relacionamentos? Você tem dificuldade de falar sobre isso? Porra, Marcos – eu chamo o analista pelo nome próprio. Preciso ser tão clara? Eu odeio falar sobre relacionamentos. Na verdade odeio pensar em outras pessoas que não eu, porque eu odeio conjeturar o que o outro está pensando, e assim num eterno xadrez. Odeio ficar no sofá pensando por onde anda fulano, o homem que eu amo, e odeio mais ainda ter que ligar para perguntar onde ele está, coisas assim que as pessoas fazem. Eu até faria, se achasse que isso é bom. Pra mim não significa nada, mas se pusesse um sorriso nos lábios de alguém, eu o faria. Mas tenho o feeling de que eles odeiam isso tanto quanto eu. Esse tipo de informação simplesmente não agrega absolutamente nada. E tenho pavor dele não querer me atender, não querer saber de mim. Suponho que quando não está comigo é porque não quer saber que existo. E tudo bem. Odeio dizer onde estou. Parece idiota. "Estou na farmácia, comprando remédio para harmonizar a flora intestinal". Ninguém diz isso. Então mente. "Estou na rua". Por isso que a idéia de casar é tão insuportável, porque isso pressupõe que devo estar o tempo inteiro com ele -- no dedo, no sobrenome, na chave de casa, sei lá, a porra toda, Marcos. Nenhum homem suporta isso. O amor não existe num território assim. E eu não suporto todas essas mulheres que ficam escrevendo sobre amor e paixão nessas revistas e blogs, são todas umas fodidas. Ninguém que está vivendo feliz a sua vida vai ficar escrevendo esses dramalhões. Eu sou uma escritora, Marcos, e sou mulher. Não posso me submeter a essa literatura de merda. Prefiro escrever sobre pés. Ou sobre dentes, ele responde. O que? Sobre dentes? -- Sim, seu próximo livro não é sobre dentes? É, é sim. Sobre dentes. Mas não tem nada a ver com amor. Tem a ver com animais, e com homens cruéis, e esse tipo de coisa. Não tem nada a ver com homens e mulheres, amorosamente falando. Então agora ele solta aquele pigarro-de-fim-de-sessão, o pigarro que ele solta pra preencher um silêncio provocado por ele próprio, seguido de um sorriso finalizador, o aperto de mão e o giro da maçaneta. 

24/07/2012

"Mashup do Exílio", publicado no último domingo no RioEtc.



Um mashup de poesias e línguas é o mais perto de como minha cabeça está nesse momento.
Mashup do Exílio (“Canção do Exílio”, Gonçalves Dias + “Nostalgia”, Caetano Veloso + “Walking Around”, Pablo Neruda + “Anthem”, Leonard Cohen” + “Onde Eu Nasci Passa Um Rio”, Caetano Veloso + “Je t’aime, Moi non plus”, Serge Gainsbourg)
Minha terra tem palmeiras, 
onde canta o sabiá;
Acontece que entro nas alfaiatarias e nos cinemas
Abatido, impenetrável, como um cisne de feltro.
Je vais, je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Entre tes reins
Et je me retiens
Je t’aime moi non plus.
As aves, que aqui gorjeiam, 
não gorjeiam como lá.
Há pássaros de enxofre com horríveis intestinos.
Eu só quero um descanso de pedras ou de lã;
Acontece que me canso de ser homem.
Onde nasci, passa um rio
Oh mon amour
Comme la vague irresolute.
Passava como se o tempo
Nada pudesse mudar
Passava como se o rio
Não desaguasse no mar.
We asked for signs
the signs were sent;
You just feel faintly proud when you hear they shout
“you’re not allowed in here, get out”
That’s what rock’n'roll is all about
Hoje eu sei que o mundo é grande,
e o rio deságua no mar
Tu es la vague, moi l’île nue
Tu vas, tu vas et tu viens
Oh, je t’aime.
Não permita Deus que eu morra, 
sem que eu volte para lá
O rio só chega no mar ,
Depois de andar pelo chão.

22/07/2012

CRU

Já em terras brasileiras, mas com turbulência no coração.
Preciso de uns dias pra me recompor. Comunicação agora só em código morse.

Voltar à pátria pode ser cruel.


11/07/2012

Carência em Paris

Ficar carente é foda. Em Paris então. Mas faltam apenas 10h. 10h pra trepar muito e sentir a quintessência.

Enquanto isso, meus filmes pornôs.


>>DRIVE



>>MICHAEL FASSBENDER



>>FASSBENDER DE JUNG, ME ESPANCA!


MY FUCKING CROOKED TEETH.


















Uma espécie de troféu.

Vou tirar um a um e fazer um colar;
Terço fossilizado
O Egito e a Virgem
num só pescoço.

10/07/2012

04.Paris____________________________UN CHIEN ANDALOU

Há uma ótica aqui ao lado com cheiro de velharia, onde um simpático senhor gorducho clone do Jô Soares e seu animado cachorrinho preto me cumprimentam quando passo.
E quando a saudade dos meus filhos peludos sufoca e paralisa, vou lá dar um amasso no pequeno de olhos afetuosos.







09/07/2012

03.Paris______________________HÔTEL LUTETIA

Hôtel Lutetia
45 Boulevard Raspail, St Germain des Prés (6éme)

Paris chamava-se Lutetia Parisorum, nome dado pelos romanos. A pequena Lutetia era uma vila de pescadores que viviam do rio Sena. Em latim, significa "lama" -- por causa da cheia do rio. 
O Hôtel Lutetia  tem papel histórico na ocupação dos alemães da segunda guerra. Quando a guerra começou, em 39, o hotel virou refúgio de fugitivos e artistas. Mas, quando o governo francês evacuou Paris em 1940, o Lutetia foi ocupado pelos próprios alemães nazistas, como moradia e "centro de entretenimento". Já em 44, no fim da guerra, Paris foi desocupada e o hotel se tornou um centro de repatriação de prisioneiros, perdidos de guerra e saídos dos campos de concentração nazistas.

Eu fui lá só pra comer um saumon de fumée e tomar um cafézinho.


08/07/2012

02.Paris__________________________________________{BANG@!}

Perguntei prum taxista onde eu poderia comprar cd's nessa cidade e ele me olhou torto. Disse que a Virgin faliu; um árabe comprou o prédio por 440 milhões de euros, e que tinha a Fnac, que ainda vendia uns disquinhos, lá na Rue de Rennes. Dava pra ir a pé. Fui. Estava cansada, mas a vontade de ouvir Banga era maior.

Banga, o disco novo da Patti Smith. BANGA.

Eflúvio de primeira sensação. Desvirginação. Sou um bebê de 88. Quando comprava discos, era bem pirralha. Sempre foi emocionante, mas a emoção de abrir a janela pra sentir o jato de ar -- sem saber de onde vinha o jato de ar. Agora há o amadurecimento do jato de ar. É o cálculo ideal do sopro levantar os cabelos. 
Banga é o primeiro. O primeiro disco que aguardo, daquela grande artista que eternamente te canibaliza como uma imensa aranha peluda. E pêlos tem tudo a ver com Banga, com Patti. Pêlos e culhões. 

Sou uma capricorniana crítica como o mais branco dos anjos -- porque o diabo jamais será crítico, muito pelo contrário; o diabo é o sim absoluto. Não gosto de nada que escuto. Minto, até gosto, mas não me emociona, não me toca. Gosto de emoções profundas. Gosto que enfiem o dedo nas minhas entranhas. Gosto de não conseguir segurar lágrimas, gritos. Avalanche. Sou séria demais e preciso de emoções fortes a altura. Altas doses de qualquer coisa. Potência. É por isso que gosto do que gosto, e sou fiel ao que gosto. Gosto pra sempre. O homem que me toca, tocará para sempre (em alguma esfera). O disco que amo, amarei para sempre. Nem que o tempo passe, as coisas mudem, mas está santificado na minha capelinha. Erigir monumentos de pedra aos meus, é o que faço. Patti Smith tem sua estátua lá, de turmalina negra onde os cabelos emendam as roupas e vê-se o nariz saltado sugando todo o ar desse mundo.

E Banga, oh, BANGA. What the fuck is banga? Sei que haverá uma história, e que vou suspirar com ela. A isso chama-se confiança.

Gosto de gente que possa confiar.

Entro na Fnac e os auto-falantes avisam que está prestes a fechar. Corro, literalmente, tal qual uma fã de Justin Biber. Pergunto no meu francês de três anos de idade où est Banga?, où est Banga?????. Banga é um ferido de guerra, só o toco; braços e pernas implodidos pelas armas de Napoleão. De Banga só restou a boca. Ele não pode ir até mim. Eu preciso ir até ele. Desço dois andares e o encontro, numa pilha com outros bangas, quase da cor da estátua no meu altar. 17,99 euros, edição especial de lançamento, que acompanha livro. Patti é uma mulher digna de total confiança.

Folheio o livro em pura excitação. Descubro que Banga é, na verdade, um cachorro. Fecho o livro. São emoções que não consigo lidar agora. Só preciso ir pra casa, dormir, acordar, andar e, quando o céu permitir, botar o disco pra tocar. 

Demoro 48h para realizar o ato. 07/07. Não é o numeral, apenas a vontade.
Botei a mochila nas costas e saí pela cidade, lá pelas 15h30 da tarde. Chovia muito e fazia 17 graus no verão parisiense. Segui pela Rue de Tournon, que virou a Rue de Seine, e fui parar no rio Sena. Fotografei ralos triangulares, andei até o Musée D'Orsay, encostei o nariz nos Van Goghs e Gauguins. Pude sentir o cheiro da tinta. Curiosamente, depois fui ao banheiro e meu nariz sangrou -- o que é muito, muito raro. Fui expulsa de lá porque o museu precisava fechar, comprei um portentoso mapa de Paris e a Pariscope e o jornaleiro perguntou se eu era allemande e me chamou pra ver um filme. Ele foi tão educado que agradeci, expliquei que não seria possível devido a minhas configurações sentimentais, mas que merci beaucoup, e muita sorte na vida. Ele sorriu. A chuva apertou e resolvi voltar para casa por dentro das ruelas ao invés de seguir novamente o Sena. 
Essa é a hora. 
Enfiei Banga nos ouvidos e apenas caminhei. 

Amei o disco (e foda-se o que você pensa, com todo o respeito, porque freqüentemente eu me preocupo demais em não ofender os outros, principalmente na seara gosto, mas nesse caso eu realmente não quero saber, nem discutir). Chorei, chorei. Caralho. Pontadas no peito. E quando começou Banga, a faixa título, lágrimas corriam mais rápido do que pude segurar. Pensei no meu cachorro, no meu fido, pura confiança encarnada. Meu fido finado, cujas cinzas estão no mar. Loyalty rests in the heart of a dog/Don’t set all your eggs on the back of a frog, canta Patti. Loyalty lifts and we don’t know why/ And the paw is pressed against the nerve of the sky/ You can leave him behind but he won’t leave you/ And the road to Heaven is true – true blue. HEAVEN IS TRUE. Chorei como um lobo, rangendo os dentes.


BANGA IS A DOG.

Loyalty rests in the heart of a dog
Don’t set all your eggs on the back of a frog
You can lick it twice but it won’t lick you
And salivating salvation gone so long so
Loyalty lifts and we don’t know why
And the paw is pressed against the nerve of the sky
You can leave him behind but he won’t leave you
And the road to Heaven is true – true blue
Banga
Say Banga
Say
Loneliness lifts when you open the night
Pilate awaits, as Jesus Christ
Forget him not – won’t forget about you
The way to Heaven is blue – boo hoo
Say - Banga
Say - Banga
Loyalty shifts if you carry a load
Ah, don’t shit it out in a golden commode
You can kick him twice – it’ll erode
Night is a mongrel – believe or explode
On the lonely night
On a golden road
Night is a mongrel
Believe or explode

03/07/2012

01.Paris______________________________PARIS

Estou em Paris.
Se meu celular fosse moderno, eu faria questão de que todas as redes sociais disparassem que eu checked in Paris. Já que isso não acontece, preciso eu mesma alardear.
(além do mais, o celular é vagabundo e pifou)

Eis porque é importante, para mim, alardear que estou em Paris:
> Capital mística & libertina do mundo -- porque o Egito é místico em sua máxima potência, mas é um misticismo abafado. (se eu botar um asterisco aqui será tão grande que vai ficar chato. quem sabe outro dia)
> Encontro vários outros fenótipos similares pelas ruas -- e os franceses continuam achando que eu pareço a Betty Blue, o que me vinga por todos os anos da infância onde eu fui chamada de dentuça.
> Família, e puramente isso. Cidade da sogra, casa da sogra com janelas onde somente eu sobre eu poderíamos tocar o cume de madeira antiquíssima. E no mais, a própria sogra, palavra muito utilizada em piadas que não me fazem nem rir de compaixão. Se uma legião de pessoas reza o Ave Maria em homenagem aquela que uterinou Jesus o próprio, eu rezo uma Eva Maria por aquela que pariu o meu amado extraterrestre. Meu sentimento é tão entranhado que, ao invés de "eu te amo", poderia soltar um grunhido.

Aos poucos, a adrenalina baixa.

Só pego avião com roupa de ginástica. Pronta pro abate, pronta para correr, pronta para me atirar de pará-quedas ou em queda livre. Vôo Rio-Paris é puro abate, carnificina. 12h dentro de um avião cheio de pulgas. A coceira só aparece quando o efeito do tranquilizante passa. Mas eu sou toda enfrentar medos. Bem acompanhada, no conforto do bico do avião, jantando codorna recheada, reduzi a dose por um terço e me diverti. Como diz minha amiga com nome da heroína da "Divina Comédia", eu preciso superar essa merda. Não posso limitar meu espaço por causa do medo da carcaça voadora medieval. Não posso ficar escrava da pilulinha azul. Porra. Seja homem, Duda. Digamos que fui Valete de Paus, não cheguei a majestade, mas vamos lá.

Paris ensolarada diz oi. Deito na cama e durmo até as 18h. Seis da tarde, horário de Paris. No Rio de Janeiro são tipo uma da tarde, creio eu. Meu celular pifado tá no horário carioca, meu computador que não me deixa na mão tá no horário francês. É equilíbrio perfeito.
E o sino lá fora avisa de hora em hora, que nem o relógio da minha cozinha.

Agradeço a cada minuto por olhar pela janela e ver o Jardin du Luxembourg.


  Eu e a xícara prato-de-sopa, prazer infantil de beber nela